sexta-feira, 29 de junho de 2012

Personagens de Jorge Amado por Nelson Cadena*




Gabriela, a bela que encanta Nacib e seduz Tonico Bastos, é apenas um dos mais de cinco mil personagens que povoam as 44 obras editadas por Jorge Amado em vida. Se você estranhou a quantidade de personagens de ficção criados pelo romancista baiano precisa ler para conferir as Criaturas de Jorge Amado, obra de Paulo Tavares, esgotada nas livrarias, mas com fartura nos sebos brasileiros, com preço que varia entre R$ 7 e R$ 180, a variável de preço a depender do estado de conservação, primeira ou segunda edição; as mais valorizadas levam o autógrafo de Tavares e do próprio Jorge Amado. Obra rara que merecia ser reeditada neste ano em que se comemora o centenário do escritor. 


Paulo Tavares, baiano da Rua Nova de São Bento, inspirou-se num trabalho similar de Anatole Cerfberr e Jules Christophe, editado em 1887 na França com o nome Répertoire de La Comédie Humaine de Honoré de Balzac, um copilado dos personagens do mundo imaginário de Balzac, na sua extensa obra de 86 livros, sem similar bibliográfico até hoje. Tavares lançou a primeira edição das Criaturas de Jorge Amado em 1969 pela Livraria Martins Editora de São Paulo, tiragem de mil exemplares apenas, com capa de Carybé e orelha de James Amado. Quinze anos mais tarde, o escritor atualizou o seu dicionário totalizando 4.910 verbetes, publicação da Editora Record, com 514 páginas.


Falei, estimei, em mais de cinco mil o número de personagens da ficção amadiana. É que a segunda e última edição do livro de Paulo Tavares, lançada em 1985, precedeu mais quatro livros escritos por Jorge Amado e que por isso não constam do dicionário: O Sumiço da Santa (88); Navegação de Cabotagem (92); A Descoberta da América pelos Turcos (94) e O Milagre dos Pássaros (97). De modo que mais de cinco mil não é nenhum exagero. E nesse número cabe destacar e chama a atenção que o escritor tenha relacionado, não apenas as criaturas imaginárias, mas as de carne e osso, personagens reais, entre 500/600 pessoas, muitos deles baianos de nascimento ou de coração, alguns ainda vivos. 


São raros os personagens reais de Gabriela, Cravo e Canela e em compensação, muitos, os de Dona Flor e Seus Dois Maridos, que é também a obra do romancista baiano com maior número de criaturas, 327 ao todo. Em Gabriela preponderam escritores e poetas: Eça de Queiroz, Castro Alves, Anatole France, Victor Hugo, Emílio de Menezes, Sosígenes Costa e também líderes mundiais como Nicolau II e Napoleão Bonaporte, dentre outros. Personagens distantes do nosso cotidiano.


Mas é em Dona Flor que Jorge Amado retratou os amigos e pessoas influentes, ou folclóricas do cotidiano da Bahia: jornalistas Jorge Calmon, Junot Silveira, Silvio Lamenha, Paulo Nacife, Odorico Tavares, João Falcão, Áureo Contreiras, Edgar Curvelo, Mario Augusto da Rocha; romancistas Clóvis Amorim, Wilson Lins, Vasconcelos Maia, Alves Ribeiro; artistas plásticos Carlos Bastos, Mario Cravo, Carybé, Calazans Neto, Genaro de Carvalho, Jenner Augusto; músicos João Gilberto e Dorival Caymmi; personalidades diversas como os advogados José Martins Catarino e Jaime Baleeiro; professor José Calazans; historiador Luis Henrique Dias Tavares (sobrinho do autor do dicionário); compositor Carlos Coqueijo Costa, político Nestor Duarte; o rábula e vereador Cosme de Farias; arquiteto Lev Smarchevski, ministro e banqueiro Clemente Mariani; etnólogo e fotógrafo Pierre Verger, dentre outros.

“Nos seus... verbetes (escreveu James Amado no texto de apresentação do livro de Paulo Tavares na primeira edição) falta certamente um, de grande interesse para o leitor. Quem é o estudioso que se lançou a tão ingente tarefa? Feita a pergunta, descobre-se um homem extremamente modesto... Autodidata, frequenta a literatura em português, espanhol, inglês, francês e italiano”. 


*Nelson Cadena é colunista do CORREIO | O QUE A BAHIA QUER SABER
Fonte: Site CORREIO | O QUE A BAHIA QUER SABER

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