terça-feira, 17 de julho de 2012

“Papai não gostava de novela”, diz filha de Jorge Amado





Jorge Amado, cujo nascimento completa 100 anos em 10 de agosto próximo, é o autor da literatura brasileira mais adaptado pela televisão. 

O texto e os personagens criados pelo escritor baiano, que morreu aos 88 anos em 6 de agosto de 2001, fazem parte do imaginário não só do povo brasileiro como do mundo inteiro. 

Além de ser traduzido para 49 idiomas, as novelas e minisséries baseadas em sua obra ganham o País e o mundo. 

Tal paixão do povo e da TV por Jorge tem como pano de fundo um fato curioso: ele não era muito fã de telenovelas, como revela ao R7 em entrevista exclusiva sua filha, Paloma Jorge Amado. 

— Papai não gostava de ver novela em tv, não estou falando das feitas sobre obras suas, mas qualquer. É claro que sempre via um capítulo aqui, outro ali. 

Mesmo com a falta de hábito, Amado aprovou a primeira versão para a TV de Gabriela, romance de 1958 adaptado para a TV em 1975; agora outra vez no ar com novo elenco. Tanto que adotou Sonia Braga como amiga. 

Paloma conta que o pai “achou Gabriela bem feita, não sei dizer sobre outras”. E revela qual era a adaptação para a TV preferida por ele. 

— Lembro que papai gostou muito do seriado O Compadre de Ogum. 

Por conta do centenário, o Brasil e o mundo festejam Jorge Amado. A editora Companhia das Letras, que detém os direitos da obra do autor, acaba de assinar 94 direitos de publicação mundo afora. Fora isso, uma nova edição de Gabriela, Cravo e Canela lançada em maio com 5.000 exemplares de tiragem já figura em terceiro lugar na lista dos livros mais vendidos. A exposição sobre o escritor no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, continua com filas intermináveis. 

Personagens preferidos

Paloma conta que Jorge costumava dizer que uma adaptação de livro seu na TV era “uma nova obra, mas que guardava a essência da obra original”. E vê na televisão “um meio de levar seu pensamento a um número maior de pessoas”. 

Ela, que também é escritora, confessa que assiste à nova versão de Gabriela, protagonizada por Juliana Paes e Humberto Martins. 

— Estou gostando e acho inevitável comparar com a anterior, tem muitos elementos semelhantes, inclusive já utiliza (agora no início) invenções da primeira, como é o caso do desejo das putas de irem à procissão. Isso não existe no livro, existiu na primeira adaptação da Globo, e volta agora da mesma maneira. Estou gostando em geral, mas destacaria os que realmente não se parecem com os da versão anterior. 

No meio de tanta novidade, diz quem são seus atores prediletos. 

— Meus preferidos são: o Humberto Martins, como Nacib, a Maytê Proença, como Sinhazinha, a Ivete Sangalo, como Maria Machadão, o Marcelo Serrado, como Tonico Bastos, e Anderson di Rizzi, como professor Josué. Estou ansiosa pela chegada de Mundinho, para ver o Matheus Solano, que é um ator que eu adoro. E também não posso esquecer da Suzana Pires, que está fazendo um Glória perfeita.

Mas, e a família Amado? Está toda de acordo com a força que Jorge ganha na TV. Voz a Paloma. 

— A família eu não sei... Eu adoro ver a obra de papai na TV, exatamente porque ela chega a um público não leitor imenso, e que, como um plus, pode passar a se interessar pela leitura. 

Jeito baiano de escrever

Além de Gabriela, outros romances, como Dona Flor e Seus Dois Maridos, Mar Morto, Tocaia Grande, Tereza Batista e Tieta também ganharam versões de sucesso na TV. Para Claudino Mayer, doutor em teledramaturgia pela USP (Universidade de São Paulo), o sucesso é fruto da obra popular do baiano. 

— Jorge Amado tem um jeito baiano de escrever, no qual mistura o mundo rural com o mundo moderno. As obras dele não envelhecem. Jorge traz uma dramaturgia essencialmente brasileira, que entra no universo doméstico, mostrando uma Bahia que é síntese do Brasil. Além disso, a obra é de fácil compreensão do povo, que é seduzido por suas belas musas e homens marcantes.

Fonte: Portal R7

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