segunda-feira, 9 de julho de 2012

Um papo sobre Jorge Amado - FLIP 2012



Da esq. para a dir.: Walcyr Carrasco, Edney Silvestre e João Ubaldo Ribeiro


Jorge Amado anda esquecido. O autor baiano, que morreu em 2004, já foi sinônimo de brasilidade e, por muitos anos, um dos mais lidos e populares dentro e fora do país. Mas, na última década, parece ter perdido expressão, apelo junto a novas gerações. Essa constatação foi escolhida pelo jornalista Edney Silvestre, mediador de um colóquio sobre o centenário do escritor, realizado na Casa de Cultura de Paraty, dentro da programação da Flip, na última quinta-feira. Participaram da mesa Walcyr Carrasco, autor da nova adaptação do romance Gabriela, Cravo e Canela, atualmente exibida pela Rede Globo, e João Ubaldo Ribeiro, integrante da Academia Brasileira de Letras, que foi amigo íntimo de Amado.

Nem Carrasco nem João Ubaldo souberam dar uma única explicação para o desinteresse dos mais jovens pela obra do autor baiano. Ambos reconhecem, no entanto, que a escola tem, ao longo dos anos, prestado um desserviço à literatura, sobretudo a brasileira, ao não saber explorar o universo dos livros de forma mais lúdica e imaginativa, conferindo aos livros de “leitura obrigatória” uma aura de tédio e inacessibilidade, decorrente de atividades pós-leitura que retiram das obras muito de sua graça.

“Ler é custoso e requer um trabalho muito grande na introdução desse hábito. Já li questões de vestibular sobre meus livros que seria incapaz de responder. Esse ódio que muitos alunos têm aos clássicos é transmitido pelos professores”, completou João Ubaldo, conterrâneo de Amado, ressaltando a importância da presença dos livros nos currículos escolares, mas também questionando os métodos como os textos são explorados.

“Jorge Amado, por mais que seja um escritor que seduz, não é um autor fácil. Ele pede atenção, dedicação do leitor, mas está longe de ser hermético. Apenas precisa ser explorado com carinho e atenção”, disse Carrasco, que leu Gabriela, Cravo e Canela pela primeira vez aos 12 anos e, desde que se tornou escritor, sonhava em fazer uma nova adaptação do romance, lançado em 1958. “Há uns quatro anos vinha propondo a ideia à Rede Globo. Quando soube que queriam fazer, eu disse: ‘É meu!’.”

Adaptação

Questionado por Silvestre sobre as liberdades que vem tomando com a obra de Amado em Gabriela, inspirada mas não uma transposição fiel do livro, Carrasco explicou que, mesmo alterando a ordem dos acontecimentos do livro e acrescentando personagens, tem buscado preservar o universo do escritor e as relações de poder que ele retratou. “Como a Globo vende suas produções para o mundo todo, a novela vai levar Jorge Amado para pessoas que nunca ouviram falar dele. O livro acaba de ganhar uma edição especial, já na cola da repercussão do nosso trabalho para a tevê”, afirmou.

Muito próximo de Amado, com quem tinha contato quase diário em Salvador, João Ubaldo conquistou o público que lotou a Casa da Cultura e a Tenda do Telão para onde a mesa estava sendo transmitida com suas recordações do escritor. Indagado por Silvestre, que também é escritor premiado de romances, se Amado lhe dava conselhos em relação a seus escritos, o autor de Sargento Getúlio e Viva o Povo Brasileiro! disse que sim, mas que sempre foi uma relação mais horizontal, sem assumir o papel de mentor. “Glauber [Rocha, cineasta] e eu éramos muito próximos. Mas o Jorge não gostava de ser visto como pai, como uma figura paternal. Preferia ser visto como um irmão mais velho.”

Sobre Gabriela, Tieta e Tereza Batista, algumas das mulheres poderosas criadas pela pena de Amado, João Ubaldo disse que o escritor acreditava, de fato, no poder do feminino. Além de amante das mulheres, ele tinha um exemplo e tanto em casa: sua esposa, a escritora Zélia Gattai. “Ele criava nos livros mulheres poderosas, era assim que pensava. Ele mostrava os meandros, as artimanhas que as mulheres usavam para contornar a situação e mostrar quem estava no comando.”

Fonte: Site Gazeta do Povo

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