quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Museu Jorge Amado é apresentado



Depois de nove anos fechada para visitantes, a residência de Jorge Amado, no Rio Vermelho, foi aberta pelos familiares para a apresentação do projeto arquitetônico que a transformará em museu. 

Os convidados assistiram ao vídeo com imagens computadorizadas do trabalho que o arquiteto português Miguel Correia preparou, gratuitamente, para a casa. 

Segundo Jorge Amado Neto, o evento foi o pontapé inicial na busca pela viabilização do projeto. O governador Jaques Wagner declarou que o governo tem interesse em financiá-lo. “Podemos bancar até a totalidade, só dependemos de encontrar o arcabouço institucional que permita a participação do estado”, afirmou. 

A intenção de financiar o projeto foi expressa pelo governador com a mesma firmeza com que ressaltou sua importância para a Bahia. “Será um espaço onde o mundo poderá cultuar não só Jorge e Zélia, mas também a língua portuguesa e a luta contra a opressão e a favor da liberdade que marca a obra do escritor”, disse. 

Entre as possibilidades jurídicas que podem abrir espaço para uma participação mais ativa do estado, Jaques Wagner citou o tombamento (que já foi negado pela família, que acredita ser um empecilho para viabilização o projeto como foi concebido) e a transformação do museu em uma fundação.

“Não é só a questão do projeto arquitetônico, mas também a manutenção do espaço, de forma perene, que temos que pensar”, lembrou, deixando claro, no entanto, que será a vontade da família que guiará a participação do estado.

Segundo Jorge Amado Neto, o próximo passo é conversar com os interessados em alavancar o projeto, sejam eles do governo ou da iniciativa privada. “Não temos nenhuma opinião formada sobre qual a melhor maneira de viabilizá-lo. Vamos conversar, analisar e negociar, pois queremos um museu que sobreviva sem problemas no futuro”, destacou.

Um café da manhã foi oferecido como parte do evento, que contou também com a presença dos candidatos à prefeitura de Salvador ACM Neto, Mario Kertész e Nelson Pelegrino. Ao final, o governador Jaques Wagner entregou presentes para os filhos do escritor, Paloma e João Jorge, e ao neto Jorge Amado Neto, em celebração ao seu centenário. 

Identidade será mantida

O vídeo que apresenta o projeto do arquiteto português Miguel Correia deixou claro que muito da arquitetura atual será mantida. Correia, que, segundo Jorge Amado Neto, é um dos dez maiores arquitetos do mundo, elogiou o espaço que tem a assinatura do arquiteto Gilberbet Chaves, e confirmou que manterá muito da estrutura atual. 

“É antes de tudo uma reforma, pois vamos manter a estrutura básica desse lugar que já é lindo e mágico”,
A maior transformação ocorrerá no jardim. As árvores plantadas pelo casal Jorge e Zélia vão sombrear caramanchões, entre outras estruturas, que comporão um espaço de convivência para os visitantes do museu. 

Dentro da casa, as maiores mudanças serão no sentido de adaptar o espaço para comportar o acervo que permitirá ao público uma maior proximidade com o escritor. 

O arquiteto se declarou “extremamente feliz” por está doando seu talento para o projeto da família Amado, da qual afirma se sentir parte. Correia também demonstrou confiança na viabilidade econômica de um museu para a memória de “um dos maiores escritores da língua portuguesa”. 

“Será o mesmo sucesso da casa de Saramago em Portugal”, acrescentou.

Segundo Paloma Amado, filha do escritor baiano, a ideia de transformar a casa em museu nasceu de um misto de clamor popular com o desejo de membros da família. Ela conta que a gêneses da ideia se deu na última vez em que a casa foi aberta ao público, nove anos atrás. 

“O povo queria ter acesso à casa, então, decidimos fazer um café da manhã durante os dias 9 e 10 de agosto de 2003. A Fundação Casa de Jorge Amado organizou e disponibilizou os convites, e o que aconteceu acabou por mudar a história da casa”, conta. 

Ela relata que centenas de pessoas disputaram os convites. “Mais de 600 pessoas conseguiram entrar. Foi lindo, no mesmo dia víamos na casa vendedores ambulantes e autoridades internacionais buscando informações sobre meu pai e sua obra”.  Com isso, conta Paloma, Zelia Gattai, que era reticente em não deixar o local onde viveu com o marido desde a década de 1960, resolveu se mudar e abrir o espaço para os admiradores do casal.

Sem apoio, projeto parou

Paloma narra, no entanto, que a partir daí o projeto de transformar a casa em um espaço de visitação parou na falta de apoio. Com isso, a casa ficou fechada por anos, acumulando problemas em sua estrutura. 

“Tivemos que leiloar um acervo que meu pai mantinha no Rio de Janeiro para fazer a reforma. O leilão, realizado há três anos, levantou R$ 2 milhões, o que permitiu que a casa tivesse a aparência que tem hoje”, conta.

De acordo com Paloma, a maior parte do dinheiro foi investida em uma obra cujo resultado não é visível. “As raízes das arvores estavam rompendo o concreto em vários pontos da casa. Tivemos que construir um muro subterrâneo, ao redor de toda ela para que a estrutura não fosse atingida, nem as árvores arrancadas”, relata.

A beleza da casa que foi aberta para a apresentação do projeto arquitetônico do museu chamou a atenção de todos os presentes e principalmente de um grande amigo do escritor que não escondeu a emoção em ver o espaço recuperado. 

“Fico muito feliz de ver a casa assim. Lembro da última vez que estive aqui. A casa estava em um estado deplorável. Lembro da tristeza que senti ao perceber que a Bahia não estava dando o valor que Jorge Amado merece”, disse o artista plástico Mario Cravo.

*Matéria do repórter Carlos Vianna Junior, publicada originalmente na versão impressa da Tribuna da Bahia

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